Cartunista alemão

Este blog ainda está bem longe de receber milhares de visitas, mas possui um público fiel e seleto. Desde que este blog foi criado em fins de maio de 2015, já foram 1075 visualizações (até o momento). Dessas visualizações, 830 foram de visitantes no Brasil. Depois do Brasil, o pais onde mais vezes este blog foi visualizado foram os Estados Unidos: 111 visualizações. As demais estão divididas entre Canadá, países da Europa, Ásia, Oceania, América Central e do Sul.

Entre os visitantes regulares deste blog está Karsten Schley, um cartunista alemão que mora em Hamburgo. Em uma comunidade que participo no Linkedin, o Karsten costuma curtir e elogiar alguns links que compartilhei para desenhos meus. No site do Schley há reproduções de vários cartuns dele. Alguns estão em inglês (que eu entendo), mas outros estão em alemão (que entendo nada tirando uma palavrinha ou outra). Dentre as influências dele,está o Gary Larson, cartunista americano criador da série de cartuns Far Side, que chegou a sair publicada no Brasil em duas coletâneas lançadas pela Cedibra, editora de Campinas que chegou a lançar muita coisa boa no Brasil durante as décadas de 1970 e de 1980.

MEAT

Quem quiser conhecer mais do trabalho do Schley, basta clicar no link a seguir:

http://www.schleycartoons.com/

Layout para adesivo de skate

Este é um esboço que fiz em 1993, pouco depois de eu ter concluído meu curso técnico em publicidade. Foi um dos desenhos que bolei para um colega meu, o artista gráfico, Eduardo Mangiapane, que pretendia montar um negócio de estampas para camisetas e acessórios para “skatistas”. Depois, soube que o Eduardo estudou na Escola Panamericana e Arte e adquiriu experiência como diretor de arte e diretor de criação em agências de publicidade.

Na verdade, foi uma boa oportunidade de trabalho que surgiu em um momento ruim. O Eduardo tinha um estúdio na Avenida Visconde de Inhaúma,o verdadeiro centro comercial de São Caetano, localizado na Vila Gerti. O que chamava a atenção era o letreiro na fachada do estúdio onde aparecia a palavra “Comics” com letras bem coloridas. Entrei no estúdio e me apresentei, nos demos bem de imediato. No entanto, conheci o Eduardo poucas semanas antes da minha família se mudar de São Caetano para Ribeirão Pires. Quando já estava morando em Ribeirão Pires, o Eduardo entrou em contato comigo: ele havia ligado para o telefone do serviço do meu irmão e deixado um recado.

O Eduardo pediu que eu criasse layouts que seriam finalizados por ele para serem aproveitados em estampas e adesivos. Criei alguns e ele me pagou no ato. No entanto, o Eduardo estava com dificuldade para manter o estúdio dele, pois havia contas a pagar, dívidas, clientes devendo pagamento etc. Depois disso, perdemos contato.

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Anos 1990: Spawn e Angela

Fiz este desenho do Spawn e da Angela em 1998 ou 1999, não estou bem certo. Era pra ter saído no Gibindex, mas acabou aparecendo primeiro no Fotolog. Mais uma vez: texto e desenho de Marco Túlio Vilela; letreiramento e colorização de Rubens Menezes. Outro desenho que foi feito com lápis em folha tamanho A3, finalizado com nanquim e canetas. O Rubens coloriu e inseriu o balão de fala após escanear uma xerox reduzida do original.

Dos meus desenhos que receberam colorização do Rubens, este e o do Superboy, que já foi postado aqui, são os mais datados. Quando se parodia heróis clássicos nas suas versões definitivas, as chances da paródia ser compreendida anos depois são maiores. No entanto, quando parodiamos modismos passageiros, as chances de que a paródia seja compreendida tempos depois são menores. Ou seja: o Super-Homem e o Batman, ambos criados no final dos anos 1930, permanecem mais atuais do que muita coisa que surgiu nos anos 1990.

Quando fiz este cartum, em meados dos anos 1990, o Spawn de Todd McFarlane estava entre os gibis mais vendidos nos Estados Unidos, chegando a ser publicado no Brasil pela Abril. Como é possível perceber,o visual do Spawn é uma mistura de Homem-Aranha, Batman e Motoqueiro Fantasma com uma origem que lembra o Espectro da DC Comics.  Na época, Angela era uma personagem recorrente nas HQs do Spawn, chegando a ganhar uma minissérie própria. No entanto, a angelical guerreira caçadora de demônios foi alvo de uma disputa judicial entre seu criador, o escritor Neil Gaiman, e o  editor e criador de Spawn, o desenhista Todd McFarlane. A disputa foi ganha por Gaiman, que depois  vendeu os direitos de sua criação para a Marvel. Em sua nova versão, Angela é filha de Odin e irmã de Thor e Loki.

Spawn

Entrevista com André Toral: A Guerra do Paraguai em quadrinhos

Estes são scans das páginas da primeira entrevista que fiz com um autor de quadrinhos, no caso, o roteirista, desenhista e antropólogo André Toral. Esta entrevista foi publicada originalmente no número 11 da revista Comix, produzida pelo Estúdio Ópera Graphica para a Editora Escala. O texto introdutório foi feito pelo editor, não é de minha autoria. Eu jamais escreveria algo como “diferente do que diziam seus livros escolares, a Guerra do Paraguai existiu mesmo”. Não sei de nenhum livro escolar que diga que a Guerra do Paraguai tenha sido ficção. Se existe, deve ter sido reprovado pelos avaliadores do MEC.
Esta entrevista foi feita no final de 1999 e publicada no início de 2000. Foi feita no próprio estúdio do Toral. Lembro-me que na ocasião trouxe um daqueles gravadores fabricados pela Philips no início dos anos 1980. Esse gravador tinha sido do meu irmão mais velho. Deu uma trabalheira danada pra fazer a transcrição. O arquivo original com o texto se perdeu. Foi gravado em um disquete que não tenho mais.Depois dessa entrevista com o Toral, fiz uma com o Lourenço Mutarelli, que permanece inédita. Mas esse é assunto para outro post…

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Com a palavra: Spacca

Numa postagem anterior, comentei sobre minhas breves participações em salões de humor e sobre o caráter “chapa-branca”de muitos desses eventos. Sobre essa postagem, um dos mestres do desenho de humor no Brasil, o chargista, cartunista,quadrinista  e ilustrador Spacca, me mandou uma mensagem de e-mail,cujos trechos reproduzo aqui com a devida autorização dele.
Quanto aos critérios de seleção dos trabalhos que são expostos em salões de humor, Spacca escreveu:
“Eu não diria que ‘salões de humor só premiam os amigos’. Já participei ou vi de perto as votações em alguns salões importantes, e nem sempre ganha o melhor, mas por razões muito diversas: desde um jurado forçar que seu protegido vença, até ser premiado um cartum não tão bom para contentar dois jurados honestos, mas teimosos, que não queriam abrir mão de suas escolhas.
Às vezes, um cartum fraco é premiado a contragosto dos especialistas para contentar um jurado leigo, mas que representa um movimento popular… Tem de tudo.
Porém, honesto ou não, nos salões de humor há um padrão: o filtro ideológico sempre entra em ação e lima o que for muito desviante.”
As afirmações do Spacca são relevantes, pois além de ser um grande artista, é alguém que conhece bem os bastidores tanto dos salões de humor quanto de alguns dos principais órgãos de imprensa do pais.
Para quem deseja conhecer melhor o trabalho do Spacca, basta clicar nos links a seguir:

Desenhar pros gringos

Em 1992, o futuro me parecia promissor. Estava cursando o último ano do colegial técnico em Publicidade e algumas ofertas ou possibilidades de trabalho surgiam. Estava vendendo roteiros para a Abril Jovem e havia sido pago por um trabalho freelancer, as ilustrações para a campanha eleitoral do pai de um amigo que havia se candidatado a vereador pelo PC do B. O dinheiro que recebi pelos roteiros e pelas ilustrações não eram lá grande coisa, mas foram o suficiente para abrir minha primeira caderneta de poupança (seguindo o sábio conselho de minha mãe). Tempos depois, fechei essa caderneta e o dinheiro foi usado para comprar roupas novas (compradas no Brás, evidentemente) e minha inscrição na FUVEST.

No mesmo ano, xeroquei alguns dos melhores desenhos que eu havia feito (na verdade, cópias de desenhos alheios, algumas só no lápis, outras com nanquim) e mandei pelo correio para uma editora dos Estados Unidos, a Malibu Comics, pouco antes dessa editora lançar os primeiros quadrinhos do selo Image e ainda antes dela ter sido comprada pela Marvel.  Duas semanas depois, chegou um envelope gordinho e com tamanho ofício mais ou menos. Para minha alegria, havia uma carta padrão em que os editores diziam que haviam gostado do meu trabalho o bastante para quererem ver mais, então tudo o que eu deveria fazer era submeter à avaliação deles um teste (try out). Junto do envelope havia trechos de dois roteiros datilografados e algumas imagens das personagens principais para usar como referência. Cada trecho de roteiro equivalia a uma sequência de quatro ou cinco páginas desenhadas. Um roteiro era para uma edição do título The All New Exiles e o outro era para uma edição do título The Ex-Mutants. Eu devia escolher apenas um dos roteiros e mandar para eles avaliarem. Só que, para garantir a resposta, devia mandar junto um envelope para resposta acompanhado de international reply coupons (cupons que servem para comprar selos em qualquer país).Já estava sonhando com os dólares que receberia por cada página que desenhasse.

Escolhi o roteiro para a edição dos Ex-Mutants, que narrava o ataque de uma espécie de lobisomem (que segundo a descrição do roteirista deveria se parecer em alguma coisa com o Venom, o inimigo do Homem-Aranha) atacava o acampamento dos heróis e agarrava uma das garotas, que deveria estar só de calcinha e sutiã. Aí outros heróis apareciam para salvar a garota, um deles com um machado na mão, outro com uma besta (aquele tipo de arco medieval que dispara flechas) e assim por diante.

Em vez de mandar só o lápis das paginas, fiz a besteira de mandar as páginas finalizadas com nanquim, o que acredito que contribuiu para diminuir ainda mais a qualidade do trabalho. Na verdade, as páginas que havia desenhado eram uma mistura mal feita dos estilos do John Byrne e do Jim Lee. Em todo caso, as páginas até que estavam melhores do que algumas coisas que já havia visto publicadas, mas é sempre um erro quando nivelamos por baixo. O certo é sempre procurar fazer o melhor e procurar aprender com os melhores.

Mandei o teste para a Malibu. Aproveitei para mandar as cópias das páginas para outra editora dos Estados Unidos que ainda existia na época:a Eclipse Comics. Fui rejeitado em ambas. A Malibu mandou uma carta padrão onde estava apenas escrito que o nível do meu trabalho ainda não atendia ao critérios deles. A Eclipse mandou uma avaliação mais detalhada. Apontou falhas, pontos fracos (anatomia, perspectiva etc.), teceu críticas bem severas, mas corretas e sinceras. Também apresentou sugestões. Uma sugestão era de que eu procurasse colaborar em fanzines ou em APAs (Amateur Press Associations), pois seria uma forma de eu continuar praticando e ir desenvolvendo um portfólio. Outra sugestão era que eu submetesse o meu trabalho à avaliação de syndicates (as agências que distribuem tiras aos jornais), pois meus desenhos  tinham um “cartoony or big-foot style”, isto é, um estilo cartunesco, mais apropriado para tiras de humor do que para gibis de super-heróis. Também me mandaram layouts do Wallace Wood para que eu os estudasse.

E, assim, acabou meu sonho de desenhar gibis para editoras dos Estados Unidos. Apesar da minha tentativa ter sido mal sucedida, hoje, tenho orgulho de que, pelo menos, a Malibu havia me proposto um teste. E mais orgulho ainda de que consegui o teste sem intermédio de agentes. Também senti a diferença entre fazer desenhos avulsos e desenhar uma sequência de quadros com base no roteiro escrito por outra pessoa. Para que outros aspirantes a desenhista entendam o que quero dizer: o fato de que você fez um desenho legal do seu super-herói favorito (uma pin up) não quer dizer que você está apto a desenhar uma história em quadrinhos desse herói. Imagine, desenhar uma história do Batman. Você não vai desenhar só o Batman, vai ter que desenhar pessoas de ambos os sexos  e de diferentes faixas etárias(não apenas jovens, mas também crianças, idosos, pessoas de meia-idade), cenários (ambientes externos e internos), objetos (ferramentas, talheres, móveis etc.), animais (cães, gatos, cavalos etc.), vegetação (árvores, arbustos, flores etc.) e tudo dentro da perspectiva de cada cena. Se você quer sentir na pele o que é isso, proponho que tente desenhar uma sequência de quadros em que um super-herói enfrente uma supervilã (ou que uma super-heroína enfrente um supervilão), faça-os lutarem no centro da cidade, numa avenida cheia de carros e pedestres. Desenvolva a sequência de modo tal que a luta termine em um parque com pessoas fazendo cooper enquanto policiais andam a cavalo.

Pouco depois dessa minha mal sucedida tentativa de me tornar desenhista no mercado americano, me apareceu um pequeno trabalho freelancer no Brasil mesmo: algumas ilustrações para um sindicato que me foram encomendadas pela esposa de um político petista. Soube que o trabalho foi publicado, mas levaram meses para me pagar a mixaria que estavam me devendo.

Estágio no estúdio de Ely Barbosa

Uns três anos antes antes de vender roteiros do Peninha e do Morcego-Vermelho para a  Abril Jovem e de visitar o estúdio Maurício de Sousa para uma entrevista, conheci o estúdio de Ely Barbosa (1939-2007) . Na época eu estava na oitava série e aos sábados frequentava um curso livre de quadrinhos em uma escola em São Bernardo do Campo. Certa vez, o Otávio Barbosa, filho do Ely Barbosa apareceu lá para uma palestra. O professor do curso havia arranjado cópias de model sheets das personagens de Ely Barbosa e muita gente na turma tentou fazer teste como desenhista para o estúdio do Ely Barbosa. Pelo pouco que pude perceber na época, se os testes tivessem 90% de semelhança com os model sheets seria insuficiente para conquistar uma vaga como desenhista no estúdio e a concorrência era tremenda. Resolvi tentar o “caminho mais fácil”, fiz um roteiro com storyboard para uma história em quadrinhos do Gordo que tinha um gibi próprio sendo publicado na época pela Editora Abril: Gordo & Cia.

O roteiro que eu havia criado era bem clichê, meio parecido com histórias da Turma da Mônica: o Gordo estava sozinho em casa à noite quando um ladrão (com boné e máscara ao estilo dos Irmãos Metralha) aparece. No final, o ladrão se entrega à polícia após quase se afogar no mar de lágrimas criado pelo choro com berreiro do Gordo. No quadrinho em que aparecia o close do Gordo chorando, inseri um texto de recordatório infame orientando o leitor a reler o mesmo  quadrinho tantas vezes  seguidas.

Pois bem, por causa dessa amostra de roteiro, fui convidado para fazer um estágio como roteirista no estúdio do Ely Barbosa. Fiquei sabendo que o próprio Ely leu o meu roteiro e havia gostado. Tive a oportunidade de conhecer alguns profissionais, dentre os quais, o Vanderley Feliciano, letrista e arte-finalista (tempos depois,soube que ele faleceu em 2000), e o Aparecido Norberto (“Cidão”), desenhista que depois trabalhou na Abril Jovem,desenhando quadrinhos Disney. Um dos roteiristas que trabalhava lá era o Mascarenhas, que faz a voz do Xaropinho no Programa do Ratinho. Lembro também de uma coisa muito sábia que o Ely disse: “Tornar-se desenhista é que nem tornar-se médico! Requer anos de estudo!”

Para chegar ao estúdio, precisava pegar umas quatro conduções: um ônibus intermunicipal de São Caetano para São Paulo, baldeação por duas linhas de metrô e mais um ônibus que parava praticamente na porta do estúdio, na avenida Indianópolis, perto do aeroporto de São Paulo. Praticamente tinha que pagar para ir trabalhar lá!Na época, eu estudava no período vespertino  e era complicado sair do estúdio a tempo de chegar na escola. Além disso, não havia conseguido  transferência para o noturno.

Por causa da dificuldade que era chegar lá e também por conta da minha imaturidade, acabei deixando aquilo de lado. Na época eu era só um garoto arrogante mais interessado em quadrinhos de super-heróis do que em criar quadrinhos infantis, como se um gênero fosse mais ou menos “digno” do que outro. Hoje, teria agido diferente, teria proposto trabalhar em casa como freelancer.

Na verdade, hoje vejo que o Ely Barbosa havia me oferecido uma grande oportunidade para conviver com profissionais de verdade e aprender algo com eles. No Brasil existe estágio remunerado, o que é algo relativamente recente. Só para fins de comparação, nos Estados Unidos, estágio (internship) sequer é remunerado, só vale créditos para concluir a faculdade. Do ponto de vista de uma empresa, o estagiário é um investimento de risco: dá trabalho ficar ensinando novato e o estagiário pode se mostrar inadequado para a função, o tempo que foi gasto com ele pode não dar retorno algum. Na Marvel e outras editoras de quadrinhos dos Estados Unidos, de vez em quando aparecem vagas para estágio e os estagiários além de não receberem remuneração, trabalham pra caramba, ajudando em funções como xerocar e arquivar documentos, preparar cafezinho, organizar cronogramas, auxiliar em funções burocráticas etc. Claro, que é uma oportunidade para fazer contatos profissionais que podem abrir portas no futuro, mas é uma coisa demorada, requer paciência. Pena que jovem raramente tem paciência!
Por outro lado, do ponto de vista do estagiário, pagar para trabalhar pode ser algo meio elitista. Para quem não nasceu em “berço de ouro”, estágio pode custar caro. Hoje, gostaria de ter tido a fibra que o teve o Chris Gardner, o sujeito que inspirou o filme À procura da felicidade (The Pursuit of Happyness) ,estrelado pelo Will Smith. Em 1989, quando estava na oitava série, não tive essa fibra. Tive um pouco dessa fibra, anos depois, na USP, quando arranjei um trabalho na sala de informática da faculdade, no qual, o que eu ganhava ia uns 90% para comprar passe escolar de ônibus e de metrô.

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Entrevista com o Maurício

Em fins de 1991 ou no início de 1992, tive o prazer de conhecer o desenhista Márcio Nicolosi, o Zé Márcio. O que Nicolosi fez pelos quadrinhos de Maurício de Sousa comparo ao que o desenhista italiano Giorgio Cavazzano fez pelos quadrinhos Disney. Ou seja, sem descaracterizar as personagens, ele elevou o nível artístico dos quadrinhos com um estilo diferenciado e uma técnica apurada.

Além da gentileza de ter me fornecido dicas de desenho, Nicolosi também me ajudou a conseguir uma entrevista com o próprio Maurício de Sousa. Em 1992, eu ainda estava vendendo roteiros para as revistas Disney da Abril Jovem. Então,pensei em tentar vender também roteiros para o estúdio de Maurício de Sousa. Aí, preparei várias histórias, desde piadinhas de uma página só a histórias maiores com seis ou oito páginas. Deixei os roteiros lá numa das visitas que fazia ao estúdio para mostrar desenhos ao Zé Márcio, Lembro-me vagamente de alguns roteiros que enviei para avaliação: tinha uma paródia do Poderoso Mightor (super-herói pré-histórico de uma série de desenhos animados da Hanna-Barbera) estrelada pelo Piteco; um crossover entre a Mônica e uma paródia da Mulher-Hulk (She-Hulk) e uma história com discurso pacifista em que o Astronauta encontrava uma mensagem em forma de holograma sobre uma guerra entre dois planetas que foram destruídos após a detonação de uma “bomba de antimatéria”.

Meses depois, no primeiro semestre de 1993, recebi uma carta do estúdio Maurício de Sousa convidando-me a marcar uma entrevista para uma conversa sobre os meus trabalhos. Pois bem, marquei a entrevista e fui lá todo contente.

Antes de conversar com o Maurício, fui entrevistado pela Alice Keiko Takeda, chefe de arte e criação do estúdio.  A Alice me fez uns elogios, disse que eu tinha talento para fazer roteiros e que meu traço era “bonitinho”, que talvez eu  pudesse ser aproveitado também como desenhista se aprendesse a desenhar as personagens da turma da Mônica. No entanto, ao responder com sinceridade algumas perguntas que me foram feitas, senti que já estava sendo dispensado de qualquer possibilidade de conquistar um emprego ali. Ela me perguntou se eu trabalhava ou se estava estudando, e respondi que não estava fazendo nem uma coisa e nem a outra, mas que pretendia conseguir um emprego para pagar um cursinho pré-vestibular. Era o meu primeiro ano fora da escola e no ano anterior havia concluído o colegial de técnico em Publicidade.

Hoje, passados muitos anos, sei muito bem a diferença entre procurar emprego quando se está desempregado e entre procurar emprego quando se está empregado. Quando se está empregado, seu poder de barganha e sua autoconfiança são maiores, a probabilidade de causar uma impressão melhor é maior. Se você conseguir a vaga, ótimo! Se não conseguir, tudo bem também, pois você tem o seu ganha-pão.Outra coisa que, apesar de lógica, nem todo candidato a uma vaga percebe: numa entrevista, o empregador está interessado em saber no que você tem a oferecer à empresa e não no contrário.

Em todo caso, depois da minha conversa com a Alice, ela ligou para o Maurício que estava num andar acima. Subi, esperei um pouco no sofá. Apesar de muito ocupado, o Maurício foi muito gentil e arranjou um tempinho para conversar comigo.  Então ele fez a seguinte avaliação; ” Seu texto é bom, você escreve bem! Seu desenho é razoável! Você ‘fala várias línguas’ em seus roteiros, quero dizer,você mistura influências de vários gêneros de quadrinhos. Sugiro que você volte a ler gibis da Mônica, especialmente os almanaques,onde as histórias melhores e mais antigas são republicadas. Faça diálogos mais curtos. Os textos mais curtos nos ajudaram a vender mais que os concorrentes. Depois, volte daqui alguns meses!’. Outra coisa que ele disse: “Os esboços não precisam ser tão sofisticados, basta uns palitinhos para indicar as personagens!”

Então, o Maurício me forneceu algumas folhas padrão para escrever os roteiros. Eram folhas pequenas do tamanho em que os gibis eram impressos (o famoso “formatinho”) e com quatro tiras diagramadas em cada uma. O Maurício me explicou que o pouco espaço das folhas para esboçar as cenas e escrever os diálogos servia para que os roteiristas se “policiassem” quanto ao tamanho dos textos e procurassem ser mais “econômicos”.

Fiquei um pouco desapontado, pois o que mais queria era poder conseguir um emprego com carteira assinada na área de quadrinhos. Agradeci ao Zé Márcio pela “força” e perdemos contato depois disso, pois poucos meses depois me mudei de São Caetano para Ribeirão Pires. Minha família havia se mudado para lá para fugir dos aluguéis altos em São Caetano. Para mim, não foi uma mudança vantajosa. Nos mudamos de um apartamento perto de padaria, banca de jornal, agência do correio, supermercado e ponto de ônibus para um sobrado afastado do centro da cidade, sem previsão de instalação telefônica na rua (os celulares estavam começando a chegar no Brasil). Em suma, perdi contato com editoras e estúdios.

Uns dois anos depois, quando já estava estudando na USP,cheguei a enviar novas amostras de roteiros para o estúdio do Maurício. Recebi pelo correio as avaliações feitas pela Alice, que não foram muito animadoras. uma das histórias que enviei mostrava o Penadinho conversando com a Dona Morte, que estava triste porque todos a temiam. Então, o Penadinho tentava animá-la mostrando como o trabalho dela era importante. A Alice recusou porque achou que a história poderia ser entendida como uma sugestão para suicídio. Outra história com o Cebolinha, a Mônica e o Cascão havia sido recusada porque havia sido  considerada “violenta”,mas não me lembro os detalhes.

Depois dessa última tentativa, desisti de criar roteiros com personagens alheios. Conforme o tempo foi passando,até por conta da minha graduação em História , fui deixando de escrever quadrinhos para cada vez mais escrever sobre quadrinhos. E foi justamente por causa disso que, para minha surpresa, meu nome apareceu citado no livro Maurício – Quadrinho a quadrinho,biografia autorizada de Maurício de Sousa, escrita pelo jornalista Sidney Gusman e lançada pela Editora Globo em 2006. Meu nome e dos demais autores do livro Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula (Waldomiro Vergueiro, Angela Rama, Paulo Ramos e Alexandre Barbosa) são citados nessa biografia quando Gusman menciona que se, no passado, educadores condenavam os quadrinhos, hoje até existem livros que recomendam o uso pedagógico das HQs.

Como em um passe de mágica, a trama se complica

Este do  cartum Mandrake eu fiz anos atrás (acho que 1995 ou 1996) pra um desses salões de humor. Mas acabei não mandando, não lembro se foi porque perdi o prazo ou se porque faltou dinheiro pra colocar no correio…

Desenhei o original a lápis em folha A3, depois cobri os traços com nanquim e caneta para retroprojetor. O texto com a fala do Mandrake foi digitado no computador, não havia muitas fontes disponíveis e como não tinha scanner, imprimi o texto e colei no desenho. Depois, reduzi o original para o tamanho A4. Alguns anos depois,em 1998 ou 1999, o Rubens escaneou a cópia em A4 e coloriu  com a intenção de publicar num outro projeto de site que sei lá porque acabou não se concretizando.

O humor aqui é bem do tipo de coisa que se via nos Trapalhões antigamente, quando ainda não existia essa chatice de politicamente correto e patrulheiros ideológicos perdiam tempo debatendo sobre piadas.

Antes de tirarmos conclusões precipitadas, talvez, Mandrake estivesse dormindo de cuecas na cama enquanto Lothar estava  na outra cama, acompanhado de duas jovens muito prendadas, que ele conheceu numa boate, e que, assustadas com a chegada de Narda, se esconderam e fugiram.

Mandrake

Superboy dos anos 1990

Esse cartum do Superboy eu fiz em 1998 ou 1999. Era apenas um pretexto para desenhar o Superboy dos anos 1990 e as namoradas dele. Esse Superboy dos anos 1990 era um clone, diferentemente do Superboy clássico que era o próprio Clark Kent quando adolescente.  Este cartum foi publicado pela primeira vez no Fotolog em dezembro de 2003.

Apesar da fama de mulherengo desse Superboy, muitos leitores brasileiros da DC Comics criticavam o visual do herói e o chamavam de “Superboiola”.

Mais uma vez: texto e desenho de Marco Túlio Vilela, letras e cores de Rubens Menezes.

Superboy