Storyboard no design instrucional

Um recurso empregado no planejamento de  cursos online  é o storyboard. Trata-se de recurso bastante utilizado na produção de filmes e desenhos animados. O storyboard é uma sequência de quadros com esboços que permitem a pré-visualização do roteiro de um filme, desenho-animado, videogame ou de uma aula virtual.

Storyboard do filme Pompeia desenhado pelo artista Clay Butler. Outros exemplos de storyboards podem ser encontrados no site: http://www.claytowne.com/
Storyboard desenhado pelo artista Clay Butler para documentário sobre Pompeia exibido pelo Discovery Channel. Outros exemplos de storyboards podem ser encontrados no site: http://www.claytowne.com/

O primeiro storyboard que fiz na vida foi, certamente, algum roteiro “rafeado” (“rafe”, do inglês rough ou rough sketch, um esboço grosseiro ou croqui) para  as histórias em quadrinhos que criava nos meus tempos de adolescente. Durante o colegial, que eu cursei como técnico em publicidade em uma escola estadual em São Caetano do Sul, eu cheguei a vender alguns roteiros para HQs Disney que eram publicadas pela Abril Jovem.

Storyboards no curso de publicidade

Na mesma época, teve dois trabalhos de escola em que desenhei storyboards para campanhas publicitárias fictícias.  Lembro-me que fiz os desenhos à mão e um colega, Renato Fogaça, que depois chegou a montar sua própria agência de publicidade, datilografou as legendas com indicações do “áudio” e instruções para a câmera (“zoom’; “plano geral”; “plano médio’; “plano americano’ etc.). Depois colamos tudo em cima de cartolinas pretas. Um storyboard foi para uma marca de automóvel fictícia que chamamos de “Morfeus, o carro dos sonhos”. Nele mostramos o próprio Sandman dos quadrinhos de Neil Gaiman caminhando em direção ao carro e fazendo um test-drive. Na indicação do áudio sugerimos como trilha-sonora a canção Enter Sandman da banda Metallica, que estava fazendo muito sucesso na época. O outro era um anúncio de uma marca de suco fictícia chamada “Hórus.” Esse storyboard mostrava um sujeito com sede e perdido no deserto que encontrava uma pirâmide, entrava dentro dela e aí se deparava com um sarcófago de onde  saía o próprio deus egípcio Hórus (com corpo humano e cabeça de falcão) oferecendo uma caixa do tal suco. Esses dois storyboards cheguei a guardar, mas já foram parar no lixo faz tempo. Lembro que tiramos  nota “A”  ou “B+”nos dois.

Storyboard na pós-graduação 

Durante a minha pós-graduação em design instrucional, uma das avaliações foi a criação de um storyboard para um protótipo de curso virtual. No final da pós-gradução, cada um teve que defender uma monografia sobre o projeto do curso que criamos e os recursos empregados, o que incluía o storyboard.

O curso que inventei foi “Criação de roteiros para histórias em quadrinhos”, onde também fiz o papel de autor/conteudista.

Há muito em comum entre HQs e storyboards: ambos envolvem dispor numa sequência determinada de quadros os elementos de um roteiro. No entanto, a principal diferença entre eles está na finalidade: a HQ é um produto acabado, ao passo que o storyboard é apenas o estágio de um processo para a criação de um produto – um filme ou, como no presente caso, um curso virtual.

Quanto à elaboração, um  storyboard pode ser produzido rapidamente (seja na forma de esboços desenhados à mão, seja na forma de templates que reaproveitam imagens de arquivo).

Cada template deve possuir instruções específicas dirigidas a outros membros da equipe de design instrucional. Justamente por não se tratar de um produto acabado, mas apenas de um estágio preliminar na produção de um curso virtual, o storyboard deve ser simples (para que sua realização não tome muito tempo no processo de produção do curso, nem acarrete atrasos para o restante da equipe), claro e direto (para que todos os membros da equipe compreendam facilmente o que se está solicitando). Não é necessário que, do ponto de vista estético, cada template seja uma “obra de arte”. Mas é importante, sim – na verdade, é imprescindível – que o storyboard seja funcional.

No link a seguir, você poderá ver a sequência de quadros (templates) que constituiu parte de uma apresentação de slides utilizada como material de apoio numa das aulas do curso proposto.

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Profissionais do ensino presencial e a distância oferecem curso sobre quadrinhos adultos

Vertigo: a vertigem dos quadrinhos mainstream (curso na Martins Fontes Paulista)

quadrinheiros vertigoCriado em 1993 dentro da DC Comics, uma das maiores editoras de quadrinhos do mundo, o selo Vertigo surgiu com a proposta de levar os quadrinhos para um público adulto e acabou por amadurecer a própria indústria na qual nasceu. Nele surgiram obras que redefiniram o mercado e quadrinhos como Hellblazer, Sandman, Preacher, Os Invisíveis e Transmetropolitan.  Conheça um pouco mais sobre esse importante capítulo da Nona Arte a partir de uma análise histórica, gráfica e técnica. Apresentaremos as origens do selo Vertigo e uma seleção e análise de obras que marcaram sua história nesses mais de 20 anos de existência.

Essa é a proposta do nosso novo curso a ser realizado na Martins Fontes da Paulista nos dias 6, 13, 20 e 27 de junho! Quem já nos conhece sabe que lá acontece, desde o final do ano passado o Quadrinheiros Explicam ao Vivo. Já falamos sobre o Batman, Superman e a própria história da DC Comics lá, mas esse será o primeiro curso na Martins Fontes Paulista.

Quadrinheiros Explicam na Martins Fontes Paulista

Mas esse não nosso é primeiro curso. Já fizemos o curso Quadrinhos na História em parceria com a Universidade Livre Pampédia. 

Curso Quadrinhos na História na Pamédia

Enfim, periodicamente ultrapassamos a fronteira do blog e do youtube para encontros mais densos, aliando o rigor acadêmico à paixão pela Nona Arte em nossas análises que sempre são enriquecidas com a contribuição do público que frequenta nossos encontros.

Aqui está um breve resumo no que vamos abordar em cada um dos encontros:

06/06: A Casa dos Mistérios de Karen Berger, A Invasão Britânica e a vertigem dos quadrinhos mainstream: O Monstro do Pântano de Alan Moore e o Hellblazer de Jamie Delano.

13/06: A Vertigo maior que a DC: Sandman de Neil Gaiman e Os Invisíveis de Grant Morrison.

20/06: Vertigo, Religião e Política: Preacher de Garth Ennis e Transmetropolitan de Warren Ellis.

27/06: A atualidade e o futuro da Vertigo: Y, O Último Homem de Brian K. Vaughan e o futuro da Vertigo.

Então, se você curtiu faça a inscrição pelo Cinese clicando aqui. O valor de 80 reais corresponde aos 4 encontros com direito ao certificado do curso se você comparecer em pelo menos três. Você também pode nos ajudar a divulgar o evento aqui pelo Facebook, mas reiteramos que a confirmação no evento não garante a participação, que deve ser efetivada via Cinese.

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Nesses momentos nós nos permitimos revelar nossas identidades (quase) secretas:

Adriano Marangoni (Velho Quadrinheiro): Doutorando em História (PUC-SP) e fellow do Center for Latin American and Latino Studies da American University em Washington D.C.. Mestre em História Social (2006), licenciado (2005) e bacharel em História (2003). Atua na área de História Contemporânea da América, relações políticas e culturais entre Brasil e EUA, com ênfase em História Moderna e Contemporânea. Lattes: http://goo.gl/ePlN9K

Bruno Andreotti (Nerdbully): Graduado e licenciado em História pela PUC-SP (2003), mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP (2008), atua como professor desde 2005. Tem experiência na área de Ciência Política, com ênfase em Teoria Política, atuando principalmente nos seguintes temas: resistências, movimentos antiglobalização, multidão, reformas democráticas, império e imperialismo. Lattes: http://goo.gl/xZPmBg

Iberê Moreno Rosário e Barros (Sidekick): Graduado em Relações Internacionais pela PUC-SP (2012). Mestrando em História pela PUC-SP (início 2013) e em Comunicação pela Universidade Metodista de São Paulo (início 2013). Pesquisador do Núcleo de Estudos de Política, História e Cultura da PUC-SP, com interesse nos temas: Cultura, Heróis, Política Externa Americana, Guerra, Conflitos Internacionais, Quadrinhos, História e Relações Bilaterais Brasil-EUA. Link para o currículo lattes: http://goo.gl/zkckve

Mauricio Zanolini (Picareta Psíquico): Graduado em Design pela FAAP (1998) e pós graduado em Pedagogia, trabalha com design gráfico, desenho de móveis, artes plásticas e vídeo. Coordenou um programa norte americano de intercambio filiado a PUC-SP e a FGV. Hoje atua no 3° Setor em projetos interdisciplinares e inter-religiosos de educação, economia colaborativa e comunicação não violenta.

Aqui você aprende como chegar na Martins Fontes:

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Venha conhecer mais sobre esse selo que mudou toda a indústria dos quadrinhos!

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Quadrinhos na luta contra a AIDS

Esta postagem pretende chamar a atenção para dois aspectos. O primeiro é o potencial dos quadrinhos como material instrucional ou para campanhas de conscientização. O segundo é que o design instrucional é anterior ao advento da Internet e pode ser aplicado também na mídia impressa.

Em 1993, pouco antes que o mundo conhecesse o primeiro “coquetel” capaz de aumentar a estimativa e qualidade de vida dos indivíduos soropositivos, o roteirista britânico Neil Gaiman, criador de “Sandman” escreveu uma história em quadrinhos de seis páginas que foi desenhada pelo artista inglês Dave McKean. Essa HQ foi veiculada  em algumas revistas do selo Vertigo ( a linha de quadrinhos adultos da DC Comics) e trazia  a personagem Morte, a irmã de Sandman, desenhada mais ou menos à imagem e semelhança da vocalista da banda “Sioux and the Banshees”, ensinando como se prevenir do vírus HIV. A HQ intitulada Death Talks About Life (“Morte fala sobre vida”) também contava com a participação do detetive do sobrenatural, John Constantine, desenhado à imagem e semelhança do cantor Sting.

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A HQ acabou sendo depois republicada na forma de um panfleto de oito páginas distribuído em escolas públicas dos Estados Unidos. No Brasil, essa HQ foi publicada pela Editora Globo no número 55 da revista Sandman (maio de 1996)  e republicada em Morte, uma coletânea lançada pela Editora Conrad em setembro de 2006.

O mais interessante dessa HQ é que o autor conseguiu tratar um tema tão difícil de maneira franca, direta e ao mesmo tempo sutil, sem apelar para vulgaridades. Vale a pena conferir.

Will Eisner: mestre dos quadrinhos e pioneiro do design instrucional

O norte-americano Will Eisner (1917-2005) foi um dos melhores roteiristas e desenhistas de histórias em quadrinhos de todos os tempos. Ele é mais lembrado pela criação do herói mascarado “Spirit” e também por graphic novels como O Edifício e Um contrato com Deus entre outras.

Eisner também foi um dos pioneiros do design instrucional. Tudo começou pouco após a entrada oficial dos Estados Unidos na  Segunda Guerra Mundial,quando Eisner se alistou no exército.

Por causa da guerra, havia a necessidade de treinar rapidamente uma grande quantidade de homens para tarefas diversas como trocar as peças de um jipe, consertar um rádio, trocar munição, dirigir um tanque etc. Além disso, o público-alvo era heterogêneo, pois incluía indivíduos de diferentes partes do país, de diferentes condições socioeconômicas e diferentes graus de escolaridade.

Assim, Eisner usou suas habilidades de escritor e desenhista produzindo material instrucional para uma publicação chamada Army Motors,  cujos primeiros números eram mimeografados. Para essa publicação, Eisner criou um personagem chamado “Joe Dope,” um recruta com quem seu público poderia se identificar. Desse modo, Eisner conquistou a empatia do público, fugindo do estilo maçante e excessivamente formal dos manuais tradicionais. Outra vantagem dos quadrinhos como material instrucional é que eles  forneciam tanto  informações verbais quanto visuais.

Por causa da eficiência desse material, depois da Segunda Guerra,Eisner foi contratado para produzir novos trabalhos para o exército dos Estados Unidos. Assim, em junho de 1951, o exército do “Tio Sam” lançou uma nova publicação chamada PS, The Preventive Maintenance Monthly, cuja intenção, como o próprio nome diz, era ensinar manutenção e conservação dos equipamentos militares. A PS também trazia dicas e orientações sobre como resolver problemas em diferentes situações.  Eisner foi responsável pela direção de arte dessa publicação de 1951 a 1971. Entre os colaboradores da PS, estiveram também os desenhistas Mike Ploog (“Motoqueiro Fantasma”), Murphy Anderson (DC Comics) , Joe Kubert ( “Tarzan”, “Sargento Rock” e “Gavião Negro” ) e o filipino Alfredo Alcala (“Conan, o bárbaro”).

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A principal qualidade da PS foi a de “saber falar a língua” do seu público. Para atrair o interesse dos leitores, recorreu até a personagens femininas que mais lembravam “coelhinhas” da Playboy. Depois, quando houve um aumento considerável de mulheres nas forças armadas dos Estados Unidos e para evitar problemas com as feministas, as personagens femininas passaram a ser mostradas de forma mais realista, evitando estereótipos machistas.

Para quem quiser conhecer mais a respeito desse material, o link a seguir leva para um acervo digital de antigas edições da PS:

http://dig.library.vcu.edu/cdm/landingpage/collection/psm