Homenagem ao meu pai ou “Demolidor, o homem sem medo”

A postagem de hoje é para homenagear o meu pai, Mário Barboza Vilela, que faleceu na última sexta-feira (26/06/2015) aos setenta e sete anos, após uma longa luta contra um enfizema pulmonar e um câncer de próstata. No dia seguinte, houve o funeral do meu pai. Apesar do momento difícil, fiquei feliz em perceber que meu pai era, ou melhor, é muito estimado, não só pela família, mas também pelos amigos.

Entre os amigos presentes, havia alguns advogados que comentaram sobre o grande conhecimento que meu pai tinha na área de Direito.  Dois deles disseram que aprenderam a redigir processos e petições com meu pai. Outro disse que, pelo menos, uma geração de advogados aprendeu a advogar com o Vilela, como ele era chamado. Esse mesmo advogado até falou que meu pai tinha começado a digitar anos atrás uma apostila de latim para estudantes de Direito e sugeriu que eu a procurasse nos arquivos dele.

É verdade, meu pai ensinou princípios de redação jurídica para muitos advogados e desconfio que deve ter ajudado alguns bacharéis a se prepararem para o exame da OAB. Também ajudou muitos advogados na redação de peças jurídicas e em sugestões de argumentos para defesa dos clientes deles.

No entanto, meu pai jamais advogou. Quer dizer, ele nunca foi creditado como advogado em nenhum processo e nem se apresentou como tal diante de qualquer juíz. Aliás, meu pai sequer era bacharel em Direito. Pra ser franco, ele jamais frequentou faculdade alguma. Formalmente, sua escolaridade nunca passou do equivalente ao atual Ensino Médio.
Meu pai era um autodidata em Direito. Era o que antigamente se chamava  de “rábula”. O que ele conhecia de Direito aprendeu por conta própria em livros e em conversas com meu saudoso tio-avô, Lund Fernandes Vilela, advogado e professor de Geografia e Matemática. Além disso,meu pai era um dos caras que mais manjava de registro de marcas e patentes. Lembro-me de, quando tinha uns sete anos de idade mais ou menos, dele pesquisando marcas em exemplares da Revista da Propriedade Industrial.

Meu pai não tinha diploma universitário,mas tinha muito conhecimento e estava sempre estudando, se atualizando, acompanhava com interesse alterações na legislação. Não tinha diploma,mas gostava de estudar, diferentemente de outros que possuem orgulho da própria ignorância.

Quando meu pai ajudava um advogado a ganhar um processo, ele se gabava: “Sou fodão! Estou mesmo convencido de que sou o Matt Murdock!”

O
O “Homem sem medo” advogando.

Roteiro meu para uma HQ Disney da Abril Jovem

Morcego_vermelho

Quando ainda estava no colegial, cheguei a vender alguns roteiros para os quadrinhos Disney que eram publicados pela Abril. Vendi duas histórias do Peninha e duas do Morcego-Vermelho (cuja identidade secreta é o próprio Peninha), mas só vi uma delas publicada. O título original da história era algo como “Surge o cometa”, mas o editor alterou para “Golpe de mestre”. Saiu publicada no gibi da Margarida, número 168, em janeiro de 1993.

Trata-se de uma típica história “tapa- buraco”, daquelas para prencher o miolo da revista, bem curtinha, onde um novo vilão, o Cometa (uma paródia ao Flash da Liga da Justiça) aparece, mas é derrotado facilmente no final. Não é o tipo de coisa que Alan Moore ou o Neil Gaiman escreveriam, mas foi o meu primeiro trabalho publicado em uma grande editora, e recebi por isso. Tempos depois, descobri num site, que essa história foi republicada na Itália com o título de Paper Bat contro Meteor. “Paper Bat” é como os italianos chamam o Morcego-Vermelho, e também na Colômbia, onde recebeu o título de El Cometa.
Quem acabou desenhando a história foi o excelente Aluir Amâncio, que já havia trabalhado no estúdio do Mauricio de Sousa e que hoje trabalha para as editoras norte-americanas. Ele seguiu fielmente os meus esboços, inclusive o uniforme do Cometa. A única alteração foi que nos meus esboços eu havia feito o Cometa bem baixinho, um tampinha, e o Amâncio o desenhou alto e fortão, mais ao estilo da Marvel.
Informações sobre essa e outras histórias Disney podem ser encontradas no seguinte site:
http://coa.inducks.org

Mangá no ensino de Exatas

Como criar quadrinhos didáticos que não sejam tediosos? Como criar quadrinhos divertidos que realmente contribuam para o aprendizado de determinado assunto? Essas são questões que costumam afligir vários profissionais envolvidos com a produção de materiais didáticos ou instrucionais.

Um excelente exemplo de utilização dos quadrinhos como material instrucional é a série “Guia Mangá”, publicada no Brasil pela Editora Novatec.  Essa série é resultado de uma parceria entre uma editora dos Estados Unidos, a No Starch Press, e uma editora do Japão, a Ohmsha.

Capa da edição brasileira do
Capa da edição brasileira do “Guia Mangá de Banco de Dados”
Capa da edição brasileira do
Capa da edição brasileira do “Guia Mangá de Eletricidade”
Capa da edição brasileira do
Capa da edição brasileira do “Guia Mangá de Estatística”

A série apresenta desenhos e narrativa dinâmicas, tão próprias dos quadrinhos japoneses, os mangás, quanto uma abordagem bem didática de conteúdos ligados principalmente à área de Exatas.

Lamento muito que nos meus tempos de estudante, nenhuma professora de Matemática tenha utilizado um material desses.

Já vi alguns exemplares dessa série em bibliotecas ou salas de leitura das escolas estaduais paulistas. Nesta semana mesmo, vi um aluno meu do sexto ano  do ensino fundamental pegando emprestado o “Guia Mangá de Eletricidade”. Alunos lendo voluntariamente um material desses, independentemente da indicação de professores,é um bom sinal.

Uma prévia do conteúdo interno de um desses guias:

http://novatec.com.br/download/amostras/amostra-manga-eletricidade.pdf

Quem quiser encontrar maiores informações a respeito desses mangás didáticos, pode clicar no link a seguir:

http://novatec.com.br/manga.php

Exemplo de didatismo em história em quadrinhos do gênero policial

Não é novidade que as histórias em quadrinhos possuam um grande potencial didático. No entanto, assim como ocorre com filmes, é comum que os melhores exemplos de didatismo sejam muitas vezes mais encontrados em obras que foram produzidas com fins de mero entretenimento do que em obras produzidas com fins didáticos.

Um bom exemplo disso pode ser encontrado em uma das edições de J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga, série de histórias em quadrinhos italiana cuja protagonista é uma professora de criminologia, Julia Kendall, desenhada à imagem e semelhança da atriz Audrey Hepburn. Para escrever essa série, o roteirista italiano Giancarlo Berardi, chegou a assistir como ouvinte aulas de criminologia em uma faculdade, o que ajudou a tornar as tramas mais verossímeis e cientificamente corretas no que se refere às investigações de crimes.

Na edição de número 94, publicado pela Mythos Editora, em setembro de 2012, em um trecho da história intitulada “Folhas de outono”, escrita por Berardi em parceria com Maurizio Mantero e desenhada por Laura Zuccheri,  a protagonista explica aos seus alunos da faculdade as razões de sua resistência ao uso de telefones celulares.

O diálogo trata das vantagens das tecnologias digitais de informação e comunicação,mas também das desvantagens, no que se refere à privacidade. Quando, em 2013, fui tutor de uma das turmas do curso semi-presencial  “Introdução à Educação Digital” oferecido a professores da rede estadual de ensino cheguei a compartilhar esse trecho com os cursistas em uma lista de discussão. Julguei o trecho apropriado,pois o curso convidava os professores a refletirem criticamente sobre as tecnologias digitais de informação e comunicação. O curso foi oferecido pela Diretoria de Ensino de Mauá e os encontros presenciais foram realizados nas salas de informática e videoconferência do ambiente local da Rede do Saber.

O trecho pode ser lido no link a seguir:

Julia_detetive_celulares_privacidade

Maiores informações sobre a publicação de onde foi retirada o trecho podem ser encontradas no “Guia dos Quadrinhos”:

http://www.guiadosquadrinhos.com/edicao/j-kendall-aventuras-de-uma-criminologa-n-94/ju06201/100241

julia_detetive

Calvin e Mafalda: o uso de tiras no ensino de Humanidades

De setembro de 2011 a julho de 2013, fui designado para trabalhar no Núcleo Pedagógico (antes chamado de “Oficina Pedagógica”) da Diretoria de Ensino de Mauá. O nome pomposo da minha função era PCOP (Professor Coordenador de Oficina Pedagógica), depois mudado para PCNP (Professor Coordenador de Núcleo Pedagógico. A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (SEESP) adora siglas! Depois disso, fui trabalhar na EFAP, e hoje estou de novo na sala de aula, lecionando para turmas do sexto ano do Ensino Fundamental a turmas do Ensino Médio.

Pois bem, no tempo em que atuei na Diretoria de Ensino, cheguei a preparar uma apresentação para uma orientação técnica para professores de Filosofia. O conteúdo dessa apresentação também pode ser de utilidade para professores de outras disciplinas como História, Geografia, Sociologia e Língua Portuguesa.

Essa apresentação, foi baseada no currículo de Ciências Humanas para o Ensino Médio e  no conteúdo de um livro do meu colega e amigo  Paulo Ramos, professor do departamento de Letras da UNIFESP, e com quem tive o privilégio de ser co-autor em alguns livros sobre quadrinhos. Aproveito para compartilhá-la. Basicamente, procura mostrar que tanto as tiras de Mafalda quanto as de Calvin e Haroldo possuem muito maior relação com o ensino de Humanidades do que algumas pessoas poderiam supor.

Aproveito para compartilhar uma versão desse conteúdo apresentado aos professores de Filosofia das escolas estaduais de Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra:

tiras_amafalda_calvin_filosofia _ensino_medio_ciencias_humanas

Uma outra versão dessa apresentação também está disponível no Emaze:

https://app.emaze.com/@AOROZOWO/tiras_mafalda_calvin_filosofiapptx-copy1

“Oportunidade de trabalho não escolhe hora para aparecer” ou “Quem produz material didático também estuda”

Na semana passada, não postei nenhum texto novo no blog. E por uma boa razão: estava ocupado com um serviço freelance para uma editora de livros didáticos. O prazo era bem apertado, pois a editora queria que eu entregasse tudo no máximo, no sábado (06/06/2015).  E o serviço me foi oferecido na segunda-feira (01/06/2015). Como esse tipo de oportunidade não escolhe hora para aparecer, aceitei o serviço, tendo em mente que quando um (a) editor (a) te procura é porque ele quer que você resolva um problema. E se você resolver o problema, apresentar uma solução, as chances de aparecer mais trabalhos aumentarão.

Por motivos éticos, já que a obra ainda vai ser publicada, não vou revelar aqui o nome da editora. Só vou descrever o serviço, para compartilhar um pouco da minha experiência na elaboração de obras didáticas. Aliás, o serviço me foi oferecido, justamente por causa da indicação de um autor de livros didáticos, para quem tive a oportunidade de elaborar propostas de atividades para os alunos em obras publicadas por outras editoras.

O serviço consistia em elaborar respostas para as questões de um livro didático de História para  alunos  do sexto ano do ensino fundamental. Além das respostas, tive também que redigir comentários para orientar o professor na correção das atividades. No decorrer do trabalho, ainda consegui apontar duas informações equivocadas que apareceram nas legendas de um mapa e de uma foto. E é muito comum, esse tipo de erro aparecer, pois um livro didático trata de muitos temas, e dificilmente um historiador ou professor de História é profundo conhecedor de todos esses temas. Por exemplo, um professor pode entender muito de Segunda Guerra Mundial, mas conhecer pouca coisa sobre o Egito Antigo.

Foi cansativo, trabalhei dia e noite durante o feriado prolongado, mas valeu a pena. Foi uma ótima oportunidade para ajudar na criação de material didático e ainda acabei aprendendo mais sobre alguns temas da História antiga, pois, muitas vezes eu tinha que pesquisar os dados sobre uma imagem inserida em um capítulo, verificar determinada informação etc.

Das quatro unidades do livro, consegui entregar três no sábado. A última só consegui terminar no domingo (07/06/2015), mas deu pra deixar tudinho pronto antes da manhã de segunda-feira. Depois, a editora me perguntou se eu podia sugerir a inserção de alguns textos complementares (trechos de artigos publicados em revistas e  sites etc.). Sugeri alguns.

Gostei muito de fazer esse freelance, mas o duro mesmo foi ter que madrugar na segunda-feira,pois tinha que estar na escola às 07 da manhã para ministrar a primeira aula do dia, justamente, para uma turma do sétimo ano do ensino fundamental.

Quem produz material didático, também acaba estudando e aprendendo durante o processo.Exemplo disso aconteceu no projeto de  livro didático em que estava trabalhando:o nome do rei assírio mostrado na imagem (a figura dele aparece duplicada tal como o reflexo de um espelho) estava escrito ASSURBANÍPAL,o mais conhecido dos reis assírios. No entanto,esta imagem em questão se trata de outro rei assírio: ASSURNASIRPAL II, que é de uma época anterior. Só percebi o equívoco porque a imagem era datada de um período anterior ao nascimento de Assurbanípal. Sem falar que os nomes são parecidos demais, mas vai que o avaliador do MEC é um professor universitário com doutorado justamente em civilizações antigas do Oriente Próximo. Para quem não sabe, os livros didáticos somente são comprados pelo MEC para serem distribuídos nas escolas públicas se forem aprovados em uma avaliação prévia do conteúdo feita por professores universitários.

Relevo representado o rei assírio Assurnasirpal II, cuja figura aparece duplicada, no centro a “árvore da vida” em cujo topo vemos uma divindade mesopotâmica dentro de um círculo.

Apresentação de aula virtual: “Formas de apresentação de um roteiro”

Na postagem anterior, apresentei o storyboard que elaborei para uma avaliação da pós-graduação em design instrucional. Nesta postagem, estou compartilhando a apresentação criada a partir do storyboard. Seguindo as orientações dos tutores, a apresentação foi salva em extensão “ppt” e convertida para “swf”. Depois, foi inserida no ambiente virtual de aprendizagem (AVA) do protótipo do curso “Criação de roteiros para histórias em quadrinhos”. O AVA está hospedado na plataforma TelEduc, desenvolvida conjuntamente pelo Núcleo de Informática Aplicada à Educação (NIED) e pelo Instituto de Computação (IC) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

Na época, o sistema operacional que eu tinha era o já obsoleto Windows XP, portanto usava uma versão bem limitada do Power Point, e a resolução das imagens não ficou das melhores. No entanto,consegui entregar a apresentação no prazo e atender aos objetivos de aprendizagem da avaliação. Essa foi uma das coisas que aprendi na minha pós, mais vale um trabalho razoável,mas finalizado, do que um trabalho excelente que não foi entregue.

formas_apresentacao_roteiro